Tosyn Lopes observa que, nos tratamentos de fertilidade, o endométrio frequentemente recebe atenção em termos de espessura e aparência ecográfica. Porém, a funcionalidade do tecido endometrial vai muito além do que é visível ao ultrassom. Diversas pacientes apresentam endométrio com espessura adequada, mas ainda assim não obtêm sucesso na implantação embrionária.
Essa diferença entre morfologia e função revela um ponto crucial na medicina reprodutiva: o útero precisa estar biologicamente pronto, e não apenas visualmente favorável. A implantação depende da interação precisa entre o embrião e o endométrio durante a chamada janela de implantação, o que envolve comunicação hormonal, imunológica e genética altamente coordenada.
Endométrio e falha reprodutiva: a espessura ideal não garante sucesso na implantação
Durante o ciclo reprodutivo, o endométrio se prepara para a possível chegada do embrião, espessando-se sob a ação do estrogênio. Em tratamentos de fertilização in vitro, o parâmetro mínimo de espessura geralmente considerado aceitável é 7 mm. No entanto, essa métrica isolada não reflete a complexidade da receptividade endometrial.
Oluwatosin Tolulope Ajidahun aponta que há pacientes que apresentam espessura endometrial satisfatória, mas falham repetidamente em engravidar. A razão pode estar na ausência de marcadores bioquímicos necessários para a implantação, como integrinas, citocinas e fatores de crescimento. Isso mostra que um endométrio aparentemente “bom” pode ser, na prática, não receptivo.

A relevância da funcionalidade endometrial
A funcionalidade do endométrio se refere à sua capacidade de responder aos hormônios, preparar-se imunologicamente e criar um ambiente propício à adesão e desenvolvimento do embrião. A expressão de genes como LIF, HOXA10, IGFBP1 e a presença de receptores de progesterona são fundamentais para o sucesso dessa etapa.
Tosyn Lopes frisa que a simples observação da espessura não revela se esses marcadores estão ativos. Em muitos casos de falhas de implantação recorrentes, a investigação molecular do endométrio revela uma janela de implantação desajustada ou inflamação silenciosa que não aparece em exames de imagem tradicionais.
O papel da janela de implantação e dos testes moleculares
A janela de implantação é o período em que o endométrio atinge seu ponto máximo de receptividade, geralmente entre os dias 19 e 21 do ciclo menstrual. Quando há um descompasso entre o momento da transferência do embrião e essa janela, mesmo embriões de alta qualidade não conseguem se implantar com sucesso.
Segundo Oluwatosin Tolulope Ajidahun, testes como o ERA (Endometrial Receptivity Analysis) avaliam a expressão de centenas de genes para determinar se o endométrio está no momento certo de receptividade. A personalização da data de transferência com base nesses dados tem aumentado as taxas de sucesso, especialmente em pacientes com histórico de falhas.
Fatores que comprometem a função endometrial
Vários fatores clínicos podem prejudicar a funcionalidade endometrial sem afetar sua espessura. A endometrite crônica, por exemplo, é uma inflamação uterina silenciosa que altera o equilíbrio imunológico local e compromete a receptividade. Outras condições como síndrome de Asherman, desequilíbrio de progesterona, microbiota uterina alterada e baixa vascularização também exercem impacto negativo.
Tosyn Lopes ressalta que, diante de falhas repetidas, é imprescindível olhar para além do ultrassom e realizar uma investigação aprofundada. Biópsias endometriais, exames imunológicos, análises microbiológicas e testes de receptividade molecular podem revelar causas invisíveis que explicam por que a gestação não ocorre.
Função endometrial: um fator decisivo no sucesso da reprodução assistida
A compreensão da funcionalidade do endométrio representa uma virada de chave na abordagem da infertilidade. A medicina reprodutiva moderna está cada vez mais voltada para diagnósticos personalizados, considerando que a receptividade uterina depende de muito mais do que medidas milimétricas ou padrões ecográficos.
Oluwatosin Tolulope Ajidahun conclui que tratar o endométrio como um tecido ativo, complexo e fundamental para o sucesso da gravidez é essencial. Quando a espessura está adequada, mas a gravidez não ocorre, o foco deve mudar para o que está acontecendo em nível celular e molecular. Essa mudança de perspectiva amplia as possibilidades terapêuticas e aproxima os pacientes de resultados positivos.
Autor: Decad Latyr
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